terça-feira, 6 de setembro de 2011

Gostaria de recomendar duas matérias publicadas na blogosfera – nos portais Advivo (Luis Nassif Online) e em Carta Maior - com análises sobre o episódio da matéria de capa de Veja contra mim. Cada uma, a seu modo, esclarece facetas da prática de jornalismo da revista, duramente criticada semana passada por inúmeros jornalistas e blogueiros em todo o país.

O professor e escritor Washington Araújo, mestre em Comunicação pela UnB, em seu artigo “O tribunal midiático”, abre sua argumentação lembrando que Veja pode ser acusada de práticas jornalísticas pouco usuais, de ser politicamente destemperada e editorialmente desequilibrada, “mas não pode ser acusada de incoerência”.  O especialista em comunicação se deu ao trabalho de fazer uma busca nos arquivos digitalizados da publicação onde levantou 49.587 resultados com o meu nome. Desse total, 91 eram menções à minha pessoa em suas capas entre 2002 e 2011.

Segundo seu levantamento, estreio em uma capa de Veja nesse período numa chamada lateral  na edição de 25/9/2002, onde constava: “José Dirceu: O homem que faz a cabeça de Lula”. Citando várias matérias de Veja a meu respeito, Washington Araujo ressalta um expediente comum: “as fontes em off, frases recolhidas fora do contexto em que foram ditas e reajuntadas a contextos mais atuais”.

Minha criminalização e o manual da revista

Para Araujo, a minha criminalização, corrente nas páginas de Veja, parece fazer parte do manual de redação da revista. “É quando Veja levanta suspeitas, investiga, acusa, julga, condena, acompanha o cumprimento da pena e veta qualquer direito ao contraditório. O Tribunal Midiático parece ter mais poder destruidor que Tribunal regular, instância judiciária em uma sociedade democrática”.

Quanto à capa de 31 de agosto passado, em que sou apresentado como um Don Corleone, de O Poderoso Chefão, o mestre em Comunicação afirma: “O que merecia mesmo uma ampla reportagem é a metodologia adotada pela revista para cumprir sua pauta”.

Entre os procedimentos citados está o de um repórter se passando por companheiro de quarto de hotel para conseguir a chave do meu apartamento com a camareira, além de imagens citadas/retratadas na revista como se houvessem sido cedidas pela segurança do hotel.  (Leia mais neste blog) Araujo, ao final, pergunta-se: “Por algum acaso, repórteres de Veja estagiaram recentemente no jornal News of the World do realmente mafioso midiático Rupert Murdoch?”.

As sombras de Veja

Na Carta Maior, a matéria “Uma apuração feita nas sombras”, assinada por Maria Inês Nassif, André Barrocal e Lourdes Nassif, traz uma entrevista comigo que aborda, ainda, outras questões relacionadas à mesma matéria de Veja contra mim.Numa alusão à frase de Veja, de que o repórter estaria no meu hotel para investigar "as atividades de um personagem que age sempre na sombra", o título já abre a matéria ironizando a estranha prática de jornalismo adotada pela revista.

Na entrevista à Carta Maior pude denunciar que Veja se meteu numa empreitada muito arriscada, do ponto de vista jurídico. “Trata-se de uma estratégia para separar, para a opinião pública, as imagens do PT e da presidenta Dilma Rousseff  ("Dilma sim, o PT, não") e também a "preparação política" para meu julgamento no Supremo Tribunal Federal, no processo do chamado "mensalão", afirmei.

E frisei à Carta Maior que a revista incorreu na violação de vários direitos garantidos pelo extenso artigo 5° da Constituição, como a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas (item X); a inviolabilidade da casa do indivíduo (item XI) e o direito à reunião. E se tudo não passar de uma estratégia da revista para me condenar a priori, antes do meu julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), reafirmo aqui o que disse aos jornalistas do portal: "Eu quero ser julgado". Afinal, apesar dos demais processos que enfrentei na minha vida pública, hoje, só tenho pendente o julgamento no STF.

"Quero ser julgado"

Carta Maior ressalta que existiam cinco processos contra mim correndo em instâncias inferiores. E que fui absolvido em primeira e segunda instâncias em todos eles. O portal informa que também passou incólume por uma devasssa de 18 meses da Receita Federal. "Recebi um atestado de idoneidade", afirmei.

A entrevista, contudo, vai além da matéria de Veja. Abordou o Congresso do PT e o que penso sobre vários temas, como o apoio a uma Reforma Tributária progressiva, em que os que ganham menos paguem menos, os que ganham mais, paguem mais.

“O Nicolas Sarkozi e a Angela Merkel falam de uma tributação de operações financeiras, e o Barack Obama, que é insuspeito, também pensa em taxar os ricos. Eu acho que, se para os Estados Unidos vale esse debate, e para a Europa também, vale mais ainda para o Brasil, onde os lucros financeiros são fantásticos e é grande a a concentracão de renda”, argumentei.

Também comentei a importância de o partido ser vanguarda em questões como a Reforma Política e a regulação da mídia. A propósito deste último tema, disse que cabe ao PT esclarecer à sociedade que o assunto nada tem a ver com censura. A regulação do setor das comunicações existe desde Portugal aos Estados Unidos, desde a Austrália ao Canadá; e que na Grã-Bretanha, inclusive, é uma regulação fortíssima.
Por fim, pude esclarecer um ponto, contrário ao que a mídia tem frisado com freqüência: “Houve uma melhora na articulacão política do governo (com o PT) com uma presença maior da presidenta (nas conversas). A relação (PT e governo) está muito boa”.

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